I – Introdução
Em face dos novos ensinamentos introduzidos por Jesus, um grande número de Doutores da Lei Hebraica não dissimulava o descontentamento com o Divino Mestre. Porém, além dos mais pobres que enxergavam no Senhor um emissário de Deus, existiam alguns intelectuais ou religiosos tomados do mais vivo interesse pelos seus ensinos. Nicodemos, um destes interessados, procura a Jesus, em particular, quando o Mestre se encontrava acompanha do apenas dos Apóstolos André e Thiago, em Jerusalém.
II – A Proclamação da Lei da Reencarnação – Diálogo original de Jesus com Nicodemos sem nenhuma distorção ou adaptação feitas pelos Homens1
Nicodemos após os cumprimentos formais, afirma que o Mestre vem de Deus, pois somente com a Luz da assistência divina, é que ele poderia realizar tantas obras, mostrando os sinais dos céus em suas mãos. Afirma que tem dedicado a existência em interpretar a Lei e desejaria conhecer os recursos para conhecer o Reino de Deus.
O Mestre sorriu bondosamente e esclareceu:
“Primeiro que tudo, Nicodemos, não basta que tenhas vivido a interpretar a Lei. Antes de raciocinar sobre as suas disposições, deverias ter-lhe sentido os textos. Mas, em verdade devo dizer-te que ninguém conhecerá o Reino do Céu, sem nascer de novo.“
“Como pode um homem nascer de novo, sendo velho? interrogou o Fariseu, altamente surpreendido. Poderá, porventura, regressar ao ventre de sua mãe?“
O Messias fixou nele os olhos calmos, consciente da gravidade do assunto em foco, e acrescentou:
“Em verdade, reafirmo-te ser indispensável que o homem nasça e renasça, para conhecer plenamente a Luz do Reino!…“
“Entretanto, como pode isso ser?” Perguntou Nicodemos, perturbado.
“És Doutor da Lei em Israel e ignoras estas coisas?” Inquiriu Jesus, como que surpreendido. “É natural que cada um somente testifique daquilo que saiba; porém, precisamos considerar que tu ensinas. Apesar disso, não aceitas os nossos testemunhos. Se falando eu de coisas terrenas sentes dificuldades em compreendê-las com os teus raciocínios sobre a Lei, como poderás aceitar as minhas afirmativas quando eu disser das coisas celestiais? Seria loucura destinar os alimentos apropriados a um velho para o organismo frágil de uma criança.“
Extremamente confundido, retirou-se o Fariseu. André e Tiago permanecem confusos com estes novos ensinamentos do Mestre e desejam mais esclarecimentos, empenhados em obter do Messias o necessário esclarecimento, acerca daquela lição nova.
III – A Explicação de Jesus sobre a Lei da Reencarnação para os Apóstolos André e Tiago
Jerusalém quase dormia sob o véu espesso da noite alta. Silêncio profundo se fizera sobre a cidade. Jesus, no entanto, e aqueles dois discípulos continuavam presos à conversação particular que haviam entabulado. Desejavam eles ardentemente penetrar o sentido oculto das palavras do Mestre. Como seria possível aquele renascimento? Não obstante os seus conhecimentos, também partilhavam da perplexidade que levara Nicodemos a se retirar fundamente surpreendido.
“Por que tamanha admiração, em face destas verdades?” Perguntou- lhes Jesus, bondosamente.
“As árvores não renascem depois de podadas? Com respeito aos homens, o processo é diferente, mas o espírito de renovação é sempre o mesmo. O corpo é uma veste. O homem é seu dono. Toda roupagem material acaba rota, porém, o homem, que é filho de Deus, encontra sempre em seu amor os elementos necessários à mudança do vestuário. A morte do corpo é essa mudança indispensável, porque a alma caminhará sempre, através de outras experiências, até que consiga a imprescindível provisão de luz para a estrada definitiva no Reino de Deus, com toda a perfeição conquistada ao longo dos rudes caminhos.“
André sentiu que uma nova compreensão lhe felicitava o espírito simples e perguntou:
“Mestre, já que o corpo é como que à roupa material das almas, por que não somos todos iguais no mundo? Vejo belos jovens, junto de aleijados e paralíticos…“
“Acaso não tenho ensinado, que tem de chorar todo aquele que se transforma em instrumento de escândalo? Cada alma conduz consigo mesma, o inferno ou o céu, que edificou no âmago da consciência. Seria justo conceder-se uma segunda veste mais perfeita e mais bela ao espírito rebelde que estragou a primeira? Que diríamos da sabedoria de Nosso Pai, se facultasse as possibilidades mais preciosas aos que as utilizaram na véspera
para o roubo, o assassínio, a destruição? Os que abusaram da túnica da riqueza vestirão depois as dos fâmulos e escravos mais humildes, como as mãos que feriram podem vir a ser cortadas” disse Jesus.
“Senhor, compreendo agora o mecanismo do resgate“, murmurou Tiago, externando a alegria do seu entendimento. “Mas, observo que, desse modo, o mundo precisará sempre do clima do escândalo e do sofrimento, desde que o devedor, para saldar seu débito, não poderá fazê-lo sem que outro lhe tome o lugar com a mesma dívida.“
O Mestre apreendeu a amplitude da objeção e esclareceu os discípulos, perguntando:
“Dentro da Lei de Moisés, como se verifica o processo da redenção?“
Tiago meditou um instante e respondeu:
“Também tu, Tiago, estás procedendo como Nicodemos, replicou Jesus com generoso sorriso. Como todos os homens, aliás, tens raciocinado, mas não tens sentido. Ainda não ponderaste, talvez, que o primeiro mandamento da Lei é uma determinação de amor. Acima do “não adulterarás”, do “não cobiçarás”, está o “amar a Deus sobre todas as coisas, de todo o coração e de todo o entendimento”. Como poderá alguém amar o Pai, aborrecendo-lhe
a obra? Contudo, não estranho a exiguidade de visão espiritual com que examinaste o texto dos Profetas. Todas as criaturas hão feito o mesmo. Investigando as revelações do céu com o egoísmo que lhes é próprio, organizaram a justiça como o edifício mais alto do idealismo humano. E, entretanto, coloco o amor acima da justiça do mundo e tenho ensinado que só ele cobre a multidão dos pecados. Se nos prendemos à lei de talião, somos obrigados a reconhecer que onde existe um assassino haverá, mais tarde, um homem que necessita ser assassinado. Com a Lei do Amor, porém, compreendemos que o verdugo e a vítima são dois irmãos, filhos de um mesmo Pai. Basta que ambos sintam isso para que a fraternidade divina afaste os fantasmas do escândalo e do sofrimento.“
Ante as elucidações do Mestre, os dois discípulos estavam maravilhados. Aquela lição profunda esclarecia-os
para sempre.
Tiago, então, aproximou-se e sugeriu a Jesus que proclamasse aquelas verdades novas na pregação do dia seguinte. O Mestre dirigiu-lhe um olhar de admiração e interrogou:
“Será que não compreendeste? Pois, se um Doutor da Lei saiu daqui sem que eu lhe pudesse explicar toda a verdade, como queres que proceda de modo contrário, para com a compreensão simplista do espírito popular? Alguém constrói uma casa iniciando pelo teto o trabalho? Além disso, mandarei mais tarde o Consolador, a fim de esclarecer e dilatar os meus ensinos.“
Eminentemente impressionados, André e Tiago calaram as derradeiras interrogações. Aquela palestra particular, entre o Senhor e os dois discípulos, permaneceria guardada na sombra leve da noite em Jerusalém; mas, a lição a Nicodemos estava dada.
A “Lei da Reencarnação” estava proclamada para sempre no Evangelho do Reino.
IV – Vidas Sucessivas
“Não te maravilhes de te haver dito: Necessário vos é nascer de novo”— Jesus (João, 3:7)
Emmanuel em2 esclarece de que as palavras de Jesus a Nicodemos foram suficientemente claras. Desviá-la para interpretações descabidas pode ser compreensível no “Sacerdócio Organizado”, atento às injunções da luta humana e com interesses de dominação das “Massa Populares”, mas nunca para os “Verdadeiros Cristãos”, de diferentes matizes religiosas, porém, amantes e praticantes da verdade legítima.
A Reencarnação é Lei Universal.
Sem ela, a existência terrena representaria turbilhão de desordem e injustiça; à luz de seus esclarecimentos, entendemos todos os fenômenos dolorosos do caminho.
O Homem ainda não percebeu toda a extensão da Misericórdia Divina, nos processos de resgate e reajustamento.
Entre os humanos, o criminoso é enviado a penas cruéis, seja pela condenação à morte ou aos sofrimentos prolongados.
A Providência, todavia, corrige, amando… Não encaminha os réus a prisões infectas e úmidas, pela eternidade afora.
Determina somente que os comparsas de dramas nefastos troquem a vestimenta carnal e voltem ao palco da atividade humana, de modo a se redimirem, uns à frente dos outros, praticando o verdadeiro “Amar ao Próximo como a Si mesmo”.
Para a Sabedoria Magnânima nem sempre o que errou é um celerado, como nem sempre a vítima é pura e sincera. Deus não vê apenas a maldade que surge à superfície do escândalo; conhece o mecanismo sombrio de todas as circunstâncias que provocaram um crime, inclusive as que tem origem em “Vidas Passadas”.
O algoz integral, assim como a vítima integral, são desconhecidos do Homem; o Pai, contudo, identifica as necessidades de seus filhos e reúne-os, periodicamente, pelos laços de sangue ou na rede dos compromissos edificantes, a fim de que aprendam a lei do amor, entre as dificuldades e as dores do destino, com a bênção de temporário esquecimento.
V – Na Esfera do Reajuste
“Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo”– Jesus (João, 3:7)
Com relação aos compromissos de Natureza Cármica existentes como “Duras Provas” na Reencarnação, Emmanuel3 esclarece que os empecilhos e as provações serão talvez os marcos que assinalam ao Homem a estrada de hoje.
Diligenciemos, porém, com a Reencarnação a retificar os erros e a ressarcir os “Débitos de Ontem”, para que a Luz da Verdade e o apoio da harmonia nos felicitem o caminho, amanhã…………………
A questão intrincada que te apoquenta agora, quase sempre, é o problema que abandonaste sem solução entre os amigos que, em outro tempo de “Vidas Passadas”, se rendiam, confiantes, ao teu arbítrio.
O parente complicado que julgas carregar, por espírito de heroísmo, via de regra, é a mesma criatura que, em outra “Época Passada”, arrojaste ao desespero e à perturbação. Ideais nobilitantes pelos quais toleras agressões e zombarias, considerando-te incompreendido seareiro do progresso, em muitas ocasiões, são aqueles mesmos princípios que outrora espezinhaste em “Vidas Passadas”, insultando a sinceridade dos companheiros que a eles se associavam.
Calúnias que arrostas, crendo-te guindado aos píncaros da virtude pela paciência que evidencias, habitualmente nada mais são que o retorno das injúrias que assacaste, noutras “Eras Passadas”, contra irmãos indefesos.
“Falhas do Passado” procuram-te responsável, no atual Corpo Físico, na Família, na Sociedade ou na Profissão, pedindo-te reajuste.
“Necessário Vos é Nascer de Novo”, disse-nos o Divino Mestre Jesus. Bendizendo, pois, a Reencarnação, empenhemo-nos a trabalhar e aprender, de novo, com atenção e sinceridade, para que venhamos a construir e acertar em definitivo, aproveitando esta oportunidade de aprimoramento e burilamento dada pela misericórdia de Deus, Nosso Pai Amoroso e Misericordioso.
- Boa Nova – Humberto de Campos e Chico Xavier, FEB, 1941 ↩︎
- Caminho, Verdade e Vida – Emmanuel e Chico Xavier, FEB, 1948 ↩︎
- Palavras da Vida Eterna – Emmanuel e Chico Xavier, Editora Comunhão Espírita Cristã, 1964 ↩︎
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