Jesus e a Surpresa do Crente – Parábola dos Talentos – III

I – Introdução

A Parábola dos Talentos, de Mateus 25:14-30, é apresentada em (1) como se o Governador Planetário, Jesus, partisse para visitar outros Mundos, chamasse a três Discípulos, em Espíritos, e lhes confiasse alguns Bens Espirituais, a título de empréstimo, participando-lhes que os reencontraria para acertos futuros na Vida Superior, assim que regressasse desta viagem interplanetária e eles da viagem à carne.

Ao primeiro transmitiu o Dinheiro, o Poder, o Conforto, a Habilidade e o Prestígio; ao segundo concedeu a Inteligência e a Autoridade, e ao terceiro entregou o Conhecimento Espírita.

Após o regresso do Divino Mestre, os três servidores assustados e vacilantes, já desencarnados, comparecem diante de sua presença, para a prestação de contas necessárias. Sendo os dois primeiros Discípulos aprovados, porém sendo necessário que retornassem a ramagem física para que aperfeiçoassem as respectivas obras iniciadas na Terra.

O terceiro Discípulo se apresenta diante do Divino Mestre, devolvendo-lhe o Conhecimento Espírita, intacto e puro, tal como o recebeu das mãos do Mestre. Tenta se justificar dizendo que o Conhecimento Espírita é Luz, e que com esta Luz aprendeu que as Leis Divinas são muito duras, pois atribui a cada um de conformidade com as próprias obras.

Como utilizar esta lâmpada, brilhante e viva, se os homens não estão preparados para a ver, pois estão embebidos em pesadelos de invejas e de ciúmes, de crueldade e de ilusões? Como empregar o clarão das tuas verdades sem ferir ou incomodar? Como não incomodar ou ferir, sem trazer consequências negativas para mim próprio?

Sabes bem que a sua Verdade entre os homens, cria sempre problemas onde aparece. Em vista disto, tive medo das Leis Divinas, e julguei como sendo a medida mais razoável para mim, o acomodamento, mantendo-me neutro em minha casa. Deste modo restituo às suas mãos esta riqueza na qual não fiz o mínimo toque de minha parte.

O Sublime Credor, entre austero e triste, ordena que os Anjos Servidores tirem do Discípulo Ocioso, o Conhecimento Espírita, o qual deveria ser entregues integralmente aos outros dois Discípulos, que iriam novamente se reencarnar na Terra. Em seguida fala diretamente a este terceiro Discípulo: Discípulo infiel e ocioso, não existe para a sua negligência outra alternativa que não seja a de recomeçares toda a sua obra pelos mais obscuros entraves do princípio.

Os Assessores do Senhor conduzem o Discípulo Ocioso para as “Sombras do Recomeço”, esclarecendo-lhe que as Leis Divinas representam a Misericórdia e a Justiça, mas possuem uma grande diferença: Para os Ignorantes do dever, a Justiça chega pelo Alvará da Misericórdia; mas, para as criaturas conscientes das próprias obrigações, a Misericórdia chega pelo cárcere da Justiça Divina → O Discípulo Ocioso terá que reaprender o caminho novamente através de reencarnações de dores e expiações, para desenvolver as qualidades que lhe estão faltando, principalmente as relacionadas com a sua falta de fé e de trabalho.

O mergulho do Espírito na carne é sempre uma oportunidade de correção e aprendizado, e nunca de sofrimento sem fim, pois Deus é um Pai de Misericórdia, de Justiça e de Amor, que deseja o constante aperfeiçoamento de seus filhos nos diferentes atributos que lhes são inerentes.

II – O Crente Ocioso e Acomodado

Em (2) é descrito o desencarne de um Crente que consegue se encontrar diretamente com o Divino Mestre Jesus, acreditando que iria repousar para sempre em um Paraíso idealizado pelas diferentes religiões convencionalistas ainda dominantes das mentes dos homens no Planeta Terra.

O Devoto feliz experimentava a doce comoção do espetáculo celeste. Mais que a perspectiva do plano divino, porém, via, extasiado, o Senhor à frente dele. Chorava, ébrio de júbilo. Sim, era o Mestre que se erguia, ali, inundando-lhe o espírito de alegria e de luz. Sentia-se compensado de todos os tormentos da vida humana. Esquecera espinhos e pedras, dificuldades e dores. Não vivia, agora, o instante supremo da realização? Não esperara, impacientemente, aquele minuto divino? Suspirara, muitos anos, por repousar na bem-aventurança.

Recolhera-se em si próprio, no mundo, aguardando aquela hora de imortalidade e beleza. Fugira aos homens, renunciara aos mais singelos prazeres, distanciara-se das contradições da existência terrestre, afastara-se de todos os companheiros de humanidade, que se mantinham possuídos pela ilusão ou pelo mal. Assombrado com as perturbações sociais de seu tempo e receoso de complicar-se, no domínio das responsabilidades, asilara-se no místico santuário da adoração e aguardara o Senhor que resplandecia glorificado, ali diante dos seus olhos.

Jesus aproximou-se e saudou-o. Semelhante manifestação de carinho embriagava-o de ventura. Sentia-se mais poderoso e mais feliz que todos os príncipes do mundo, reunidos. O Divino Mestre sorriu e perguntou-lhe: Dize-me, Discípulo querido, onde puseste os Ensinamentos que te dei? O Crente levou a destra ao tórax opresso de alegria e respondeu: No coração.

Onde guardaste, tornou o Amigo Sublime, as minhas continuadas bênçãos de paz e misericórdia? No coração, retrucou o interpelado.

– E as luzes que acendi, em torno de teus passos? Tenho-as no coração, repetiu o Devoto, possuído de intenso júbilo.

O Mestre silenciou por instantes e indagou novamente: E os dons que te ministrei? Permanecem comigo, informou o Aprendiz, no recôndito da minha alma.

Silenciou o Cristo e, depois de longo intervalo, inquiriu, ainda: Ouve. Onde arquivaste a fé, as dádivas, as oportunidades de santificação, as esperanças e os bens infinitos que te foram entregues em meu nome? Reafirmou o Discípulo, reverente e humilde: Depositei-os no coração, Senhor.

A essa altura, interrompeu-se o diálogo comovente. Jesus calou-se num véu de melancolia sublime, que lhe transparecia do rosto. O Devoto perdeu a expressão de beatitude inicial e, reparando que o Mestre se mantinha em silêncio, indagou: Benfeitor Divino, poderei doravante abrigar-me na paz inalterável de tua graça? Já que fiz o depósito sagrado de tuas bênçãos em meu coração, gozarei o descanso eterno em teu jardim de infinito amor? O Mestre meneou tristemente a cabeça e redarguiu: Ainda não. O trabalho é a única ferramenta que pode construir o palácio do repouso legítimo. Por enquanto, serias aqui um poço admirável e valioso pelo conteúdo, mas incomunicável e inútil.

Jesus, então lhe comunica que deve retornar à Terra, para conviver com os bons e com os maus, com os justos e com os injustos, com os ignorantes e com os sábios, com os ricos e com os pobres, distribuindo a todos os bens que recebeu e represou no coração → ”Regressa, regressa ao mundo de onde vieste e passa todos os tesouros que guardaste no santuário do coração para a sublime oficina de tuas mãos”.

Nesse momento, o Devoto, em lágrimas, notou que o Senhor se lhe subtraía ao olhar angustiado. Antes, porém, observou que o Cristo, embora estivesse totalmente nimbado de intensa luz, trazia nas mãos formosas e compassivas os profundos sinais dos cravos da cruz.

Fontes

1 – Cap.4 – Estudo na Parábola, Livro: Estante da Vida, Humberto de Campos e Chico Xavier, FEB, 1969.

2 – Cap.13 – A Surpresa do Crente, Livro: Pontos e Contos – Humberto de Campos e Chico Xavier – FEB – 1958.

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